Os recentes conflitos no Oriente Médio têm aflorado as enormes divisões internas dentro dos países envolvidos, como Síria, Iêmen e Iraque. Apesar de enfrentarem guerras envolvendo outras nações, as diferentes vertentes do Islã acabam sendo um fator agravante nas disputas internas por poder e influência regional.
Na última semana, um atentado em Teerã, capital do Irã, durante uma cerimônia em homenagem ao general Qasem Soleimani, morto em um ataque aéreo dos Estados Unidos, em 3 de janeiro de 2020, nas proximidades do Aeroporto Internacional de Bagdá, e reivindicado pelo Estado Islâmico, um grupo de maioria sunita, expôs ainda mais o caráter dessas divisões dentro do islamismo.
Embora não enfrente uma guerra em seu território, a República Islâmica do Irã, de maioria xiita, está envolvida indiretamente em vários conflitos na região, como a Guerra do Iêmen, na qual apoia o movimento houti, também conhecido como Ansar Allah (Apoiadores de Deus). Além disso, financia o grupo terrorista libanês Hezbollah e dá apoio às milícias xiitas que defendem o governo sírio de Bashar al-Assad.
Para entendermos um pouco as raízes dessas divisões, precisamos conhecer as duas principais denominações do Islã, que representam a divisão dentro da comunidade muçulmana em relação à liderança espiritual e sucessão do Profeta Muhammad (Maomé): os sunitas e os xiitas.
Os sunitas, que compõem a maioria dos muçulmanos (cerca de 85%), seguem a tradição do "sunnah", que significa prática ou costume. Eles acreditam que a liderança após a morte do Profeta Muhammad deveria ser escolhida por consenso da comunidade islâmica. Os califas, ou líderes políticos e espirituais, foram eleitos sucessivamente pelos muçulmanos sunitas após a morte do Profeta, enfatizando a importância de seguir as tradições e aceitando as primeiras lideranças como legítimas.
Os xiitas, por sua vez, representam uma minoria significativa no mundo islâmico (cerca de 15%), e a divergência fundamental em relação aos sunitas remonta aos primeiros dias do Islã. Eles acreditam que a liderança espiritual e política deveria permanecer na família do Profeta Muhammad, seguem o "Ahl al-Bayt" (a família do Profeta) e consideram os imãs, descendentes diretos do Profeta, como líderes divinamente designados. O primeiro imã, Ali, é especialmente reverenciado pelos xiitas, e a divisão entre sunitas e xiitas foi acentuada pela disputa sobre a sucessão após a morte do Profeta.
Embora as diferenças teológicas sejam fundamentais, é importante notar que tanto sunitas quanto xiitas compartilham princípios básicos do Islã, como a crença em Allah, o Alcorão e os pilares do Islã. Ambos os grupos têm coexistido e contribuído para a rica diversidade dentro da comunidade muçulmana ao longo da história, porém, quando se trata de poder e influência na região, tanto governos, quanto grupos terroristas, se aproveitam dessas diferenças para inflamar ainda mais as tensões no Oriente Médio.