segunda-feira, 20 de novembro de 2023

A VITÓRIA DE JAVIER MILEI, OS DESAFIOS E EXPECTATIVAS PARA A ARGENTINA


            Foto: REUTERS/Agustín Macarian

No dia 20 de novembro, data em que os argentinos celebram o Dia da Soberania Nacional, o país amanheceu com um novo presidente. Em uma eleição onde as pesquisas apontavam um enorme equilíbrio, Javier Milei (La Libertad Avanza) emergiu como o vencedor, com mais de dez pontos percentuais à frente de seu rival Sergio Massa (Unión Por La Patria), redefinindo o panorama político do país e sinalizando uma mudança significativa. Sua vitória, embora surpreendente para alguns, reflete o desejo crescente da população argentina por uma liderança inovadora e uma visão diferenciada para os desafios que o país enfrenta.

Com seu discurso ultraliberal, Milei ganhou força com sua abordagem radical e soluções controversas para as questões mais prementes. Sua promessa de reformas econômicas, focadas na diminuição do Estado, na dolarização da economia, bem como no fechamento do Banco Central argentino, conquistou a confiança de eleitores preocupados com a instabilidade econômica do país, que conta com uma inflação anual acumulada de mais de 140%.

Além disso, Milei defende a saída da Argentina do Mercosul, o afastamento de países como Brasil e China, e a privatização de empresas estatais consideradas por ele como "deficitárias", como a YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales), maior empresa petrolífera do país. Outro assunto que está em pauta é o corte de ministérios de 18 para apenas 8.

No campo social, Javier Milei também causa polêmica por defender a liberação de armas de fogo para o cidadão e a venda de órgãos, algo fortemente criticado por alguns setores da sociedade. A redução da maioridade penal e a militarização dos presídios também são promessas de campanha de Milei, que fala em política de "tolerância zero" contra o narcotráfico que toma conta de partes importantes do país, como as cidades de Rosário e Santa Fé.

A habilidade de Milei de se comunicar com um público mais jovem, que impulsionou a corrida eleitoral principalmente pelas redes sociais, desempenhou um papel crucial em sua campanha bem-sucedida. Seus discursos, embora carregados de ideias radicais e controversas, cativaram uma população esgotada por anos e anos de crises e falta de perspectiva. Vale lembrar que mais de 40% da população argentina encontra-se na pobreza, e a taxa de desemprego no último trimestre ficou em torno de 6%, segundo dados do Banco Mundial.

Apesar da vitória convincente, Javier Milei agora enfrenta uma série de desafios complexos, desde a recuperação econômica até a gestão de questões sociais delicadas. A expectativa da população é alta, e a capacidade do novo presidente de traduzir suas promessas de campanha em ações tangíveis será crucial para manter o apoio público ao longo de seu mandato.

Além disso, Milei terá que negociar apoio político com um Congresso altamente fragmentado, e para tal, os apoios do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) e da candidata derrotada no primeiro turno, Patricia Bullrich, serão fundamentais para uma melhor articulação e aprovação de projetos, visto que a coalizão "La Libertad Avanza" possui poucos representantes na Câmara e no Senado.

A vitória de Milei representa uma mudança de paradigma na política argentina. Sua ascensão ao cargo presidencial traz consigo a promessa de renovação e uma abordagem mais radical para os desafios enfrentados pelo país. No entanto, o sucesso dependerá da sua capacidade de transformar suas visões em ações concretas que melhorem a realidade de uma nação que, no início do século XX, chegou a figurar entre as dez maiores economias do mundo, mas que hoje necessita de uma solução urgente para os gravíssimos problemas socioeconômicos que a desafiam.

domingo, 12 de novembro de 2023

DOIS CAMINHOS, UMA ESCOLHA E UMA ARGENTINA DIVIDIDA

 

Sergio Massa (esq.) e Javier Milei (dir.) - Foto: JUAN MABROMATA, Luis Robayo - AFP


No próximo domingo (19), os argentinos irão novamente às urnas para decidir quem será o seu novo presidente, e o escolhido terá um enorme desafio pela frente: resgatar o país de uma das maiores crises econômicas de sua história.

Com inflação anual acumulada na casa dos 140%, as reservas de dólares evaporando e a consequente desvalorização do peso em relação à moeda americana, a crise se agrava dia após dia, levando ao desabastecimento de produtos, baixa produção industrial e agrícola e acentua enormes problemas sociais, como a pobreza e a violência.

O que já sabemos é que não será dessa vez que os eleitores argentinos estarão unidos na tentativa de solucionar esses problemas. A polarização política no país se intensificou nos últimos anos e dividiu ainda mais a população, levando Javier Milei e Sérgio Massa à disputa do segundo turno.

Javier Milei, o autointitulado "anarcocapitalista", é um economista e escritor argentino que ingressou na política com uma abordagem liberal-conservadora. Sua candidatura à presidência gerou interesse significativo devido ao seu estilo de discurso incisivo e polêmico.

Milei é conhecido por suas posições de livre mercado e seu apoio à redução do tamanho do Estado e das regulamentações. Se eleito, podemos esperar políticas econômicas mais alinhadas com o liberalismo clássico, incluindo reformas pró-mercado. Sua abordagem retórica atrai eleitores descontentes com o status quo, mas também pode gerar controvérsia e polarização na política argentina.

Na outra ponta da disputa está o peronista Sergio Massa, um político argentino com uma longa trajetória na política do país, e que desempenhou papéis importantes em vários governos e partidos ao longo de sua carreira.

Massa é o atual Ministro da Economia e ocupou cargos de destaque, incluindo a presidência da Câmara dos Deputados da Argentina e a Chefia do Gabinete Nacional da ex-presidente Cristina Kirchner, o que faz dele uma figura conhecida e respeitada na política argentina.

Por conta de seu discurso moderado, Massa é frequentemente associado a uma abordagem mais centrada e tem buscado a construção de coalizões e alianças políticas, o que pode ser visto como um esforço para buscar soluções de compromisso.

Sergio Massa também se concentra em questões sociais e econômicas que afetam as camadas mais vulneráveis da população argentina. Espera-se que ele continue a promover políticas destinadas a melhorar o bem-estar social e a reduzir a desigualdade, em uma população em que o número de pessoas vivendo na pobreza beira os 40%.

A Argentina está dividida. Se por um lado, os discursos radicais de Milei causam apreensão, por outro, o fato de Massa fazer parte da velha política argentina, que levou à situação de crise atual, causa desconfiança. Seja qual for o resultado, o vencedor terá a enorme responsabilidade de tirar o país dessa crise, mas seja quem for, terá que começar superando essas divisões.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

A BUROCRACIA E A INEFICIÊNCIA DA ONU NA SOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS

     Prédio da ONU em Nova York. Foto: Arnaldo Jr.

Ao completar um mês, o conflito entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas está longe de uma solução, tanto do ponto de vista militar, quanto do ponto de vista diplomático. Diante desse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) vem recebendo inúmeras críticas por conta da incapacidade de atuar de forma mais incisiva nessa e em outras guerras.

A ONU foi criada em 24 de outubro de 1945, logo após o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a nobre intenção de promover a paz e a segurança globais, bem como garantir direitos humanos e desenvolvimento sustentável em todo o mundo, algo que não foi alcançado pela sua predecessora, a Liga das Nações, extinta oficialmente em 1946. No entanto, ao longo dos anos, a burocracia excessiva e a ineficiência se tornaram obstáculos significativos em seu caminho. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que na sua capacidade de solucionar conflitos internacionais.

Com suas diversas agências e comitês, muitas vezes a entidade se vê atolada em procedimentos burocráticos que dificultam a tomada de ações rápidas e eficazes para conter crises. Um bom exemplo é o Conselho de Segurança, onde o processo de tomada de decisões é muitas vezes moroso, sujeito a vetos por parte dos membros permanentes (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França) e repleto de discussões intermináveis. Isso se reflete na incapacidade da organização em resolver conflitos urgentes, como os conflitos na Síria, no Iêmen, na Ucrânia e em Israel.

Além disso, a falta de recursos e a dependência de financiamento voluntário de países membros muitas vezes comprometem a capacidade da ONU de responder efetivamente a crises humanitárias. A organização se vê obrigada a depender da boa vontade de nações ricas, o que pode levar a atrasos e à insuficiência de recursos para ações humanitárias vitais.

A ONU também é frequentemente criticada por sua incapacidade de aplicar sanções efetivas e impor resoluções do Conselho de Segurança. Casos como o programa de enriquecimento de urânio do Irã, que visa alcançar a produção de armas nucleares, o desenvolvimento de armas pela ditadura norte-coreana, a invasão russa à Ucrânia, o eterno conflito entre Israel e Palestina são exemplos claros de como a falta de ação eficaz mina a credibilidade da organização e perpetua a insegurança global.

É importante reconhecer que a burocracia das Nações Unidas não é apenas um problema de estrutura, mas também de política. A polarização entre os membros permanentes do Conselho de Segurança e a falta de consenso político, muitas vezes impedem a ação decisiva. A busca de interesses nacionais frequentemente prevalece sobre o compromisso com o bem comum global.

Diante desses desafios, é imperativo que a entidade enfrente reformas significativas para recuperar sua eficácia na solução de conflitos e diminuir a sensação de "inércia diplomática". Isso inclui uma revisão de sua estrutura de tomada de decisões, o fortalecimento de mecanismos de resolução de disputas e o aumento da independência financeira para reduzir a influência de interesses nacionais.

Em resumo, a burocracia e a ineficiência da ONU na solução de conflitos são questões críticas que minam sua capacidade de cumprir sua missão de manter a paz e a segurança internacionais. Uma grande reforma é essencial para garantir que a organização possa desempenhar um papel mais eficaz na resolução de conflitos, afim de garantir a estabilidade política em todo o mundo. Enquanto a comunidade internacional não se comprometer com essas mudanças, e as diferenças nacionais e regionais e econômicas prevalecerem, a ONU continuará a ser uma organização que luta consigo mesmo para existir e não ter o mesmo fim da Liga das Nações.

sábado, 4 de novembro de 2023

BEM-VINDO AO OBSERVATÓRIO GLOBAL!

Olá, caro leitor! É com satisfação que dou início ao blog  Observatório Global.

Seja você um estudante de Geopolítica ávido por conhecimento, um entusiasta de assuntos globais ou alguém que simplesmente busca compreender melhor o complexo cenário geopolítico do nosso mundo, o Observatório Global é o seu novo destino para explorar as questões que moldam o globo.

A Geopolítica é a ciência que investiga as interações entre países, nações e regiões, analisando fatores como política, economia, cultura e estratégia. Ela nos ajuda a entender como as nações se relacionam, os conflitos que surgem, as alianças que se formam e o impacto disso em nossas vidas.

Neste espaço, pretendo fornecer análises aprofundadas, perspectivas críticas e insights sobre os eventos geopolíticos mais importantes que moldam o nosso mundo. Abordarei tópicos como relações internacionais, conflitos regionais, acordos comerciais, questões de segurança global e muito mais.

Convido você a se juntar a mim nessa jornada intelectual e a participar das discussões. Afinal, a Geopolítica é um campo em constante evolução, e sua perspectiva e contribuição são valiosas para a nossa comunidade.

Desde já, é um prazer tê-lo por aqui! 🌎