No dia 20 de novembro, data em que os argentinos celebram o Dia da Soberania Nacional, o país amanheceu com um novo presidente. Em uma eleição onde as pesquisas apontavam um enorme equilíbrio, Javier Milei (La Libertad Avanza) emergiu como o vencedor, com mais de dez pontos percentuais à frente de seu rival Sergio Massa (Unión Por La Patria), redefinindo o panorama político do país e sinalizando uma mudança significativa. Sua vitória, embora surpreendente para alguns, reflete o desejo crescente da população argentina por uma liderança inovadora e uma visão diferenciada para os desafios que o país enfrenta.
Com seu discurso ultraliberal, Milei ganhou força com sua abordagem radical e soluções controversas para as questões mais prementes. Sua promessa de reformas econômicas, focadas na diminuição do Estado, na dolarização da economia, bem como no fechamento do Banco Central argentino, conquistou a confiança de eleitores preocupados com a instabilidade econômica do país, que conta com uma inflação anual acumulada de mais de 140%.
Além disso, Milei defende a saída da Argentina do Mercosul, o afastamento de países como Brasil e China, e a privatização de empresas estatais consideradas por ele como "deficitárias", como a YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales), maior empresa petrolífera do país. Outro assunto que está em pauta é o corte de ministérios de 18 para apenas 8.
No campo social, Javier Milei também causa polêmica por defender a liberação de armas de fogo para o cidadão e a venda de órgãos, algo fortemente criticado por alguns setores da sociedade. A redução da maioridade penal e a militarização dos presídios também são promessas de campanha de Milei, que fala em política de "tolerância zero" contra o narcotráfico que toma conta de partes importantes do país, como as cidades de Rosário e Santa Fé.
A habilidade de Milei de se comunicar com um público mais jovem, que impulsionou a corrida eleitoral principalmente pelas redes sociais, desempenhou um papel crucial em sua campanha bem-sucedida. Seus discursos, embora carregados de ideias radicais e controversas, cativaram uma população esgotada por anos e anos de crises e falta de perspectiva. Vale lembrar que mais de 40% da população argentina encontra-se na pobreza, e a taxa de desemprego no último trimestre ficou em torno de 6%, segundo dados do Banco Mundial.
Apesar da vitória convincente, Javier Milei agora enfrenta uma série de desafios complexos, desde a recuperação econômica até a gestão de questões sociais delicadas. A expectativa da população é alta, e a capacidade do novo presidente de traduzir suas promessas de campanha em ações tangíveis será crucial para manter o apoio público ao longo de seu mandato.
Além disso, Milei terá que negociar apoio político com um Congresso altamente fragmentado, e para tal, os apoios do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) e da candidata derrotada no primeiro turno, Patricia Bullrich, serão fundamentais para uma melhor articulação e aprovação de projetos, visto que a coalizão "La Libertad Avanza" possui poucos representantes na Câmara e no Senado.
A vitória de Milei representa uma mudança de paradigma na política argentina. Sua ascensão ao cargo presidencial traz consigo a promessa de renovação e uma abordagem mais radical para os desafios enfrentados pelo país. No entanto, o sucesso dependerá da sua capacidade de transformar suas visões em ações concretas que melhorem a realidade de uma nação que, no início do século XX, chegou a figurar entre as dez maiores economias do mundo, mas que hoje necessita de uma solução urgente para os gravíssimos problemas socioeconômicos que a desafiam.